Começou como jogador de futebol mas, aos 16 anos, percebeu que o seu futuro na modalidade seria fora das 4 linhas. Começou a carreira de treinador com 17 anos e, em 15 épocas, já passou por todos os escalões e divisões do futebol português, à excepção da 1ª Liga.
Entrevistamos Eduardo Moreira, treinador adjunto do U.S. Creteil (França).
Como começou o seu percurso como membro de equipas técnicas no Futebol?
Eduardo Moreira: Olá Luís, antes demais, gostaria de agradecer o convite para falar um pouco do meu percurso e daquilo que mais me apaixona. É um prazer enorme poder partilhar e falar do meu trajecto no futebol até ao momento.
Eu joguei futebol até aos meus 16 anos, sempre a um nível amador. Naquela altura, tive de fazer uma opção entre seguir os estudos ou seguir como jogador. Acabei por optar pelos estudos, pois confesso que a qualidade para atingir patamares maiores não abundava (risos).
Assim, no fim dessa época desportiva, deixei de jogar e felizmente, graças a um convite de alguém que me é muito especial e que foi pela sua mão que comecei como treinador, o José Moreira. Comecei esta aventura no futebol de formação do Boavista F.C.
Na altura tinha 17 anos e estava como adjunto dos Sub-17 do Boavista F.C.
Desde a 2003/04 até à época 2008/09, passou por vários escalões no Boavista F.C. Conte-nos como foi essa experiência no clube axadrezado?
Eduardo Moreira: Sim é verdade, durante o meu tempo naquela casa, tive a oportunidade de treinar todos os escalões de formação e ainda estar na equipa sénior, na altura na 2ª Liga (Liga Vitális).
Foi uma experiência fantástica e uma aprendizagem enorme. Tive a oportunidade de trabalhar e conviver com vários treinadores que eram referências no futebol de formação nacional (Neca Matos, Queiró, Eliseu, Manuel Pedro, etc...).
Encontrei e treinei jogadores com uma qualidade extraordinária, que hoje atuam ao mais alto nível, como por exemplo, o Bruno Fernandes, na altura sub-14. Vários jogadores internacionais pelas várias selecções, incluindo a principal.
Na altura, o Boavista era um clube de referência na formação e tinha acabado de ser campeão nacional. Foi fantástico e um privilégio ter começado a dar os primeiros passos numa casa que jamais esquecerei.
Na época seguinte (2009/10), esteve no S.C. Salgueiros 08, clube que sucedeu ao histórico Salgueiros. Como correu essa época?
Eduardo Moreira: Outro clube histórico do qual me orgulho de ter feito parte. Uma vez mais tive a oportunidade de treinar vários escalões de formação. Onde, também, encontrei jogadores com uma qualidade acima da média e que hoje se encontram nos escalões profissionais.
Um clube que apesar de, na altura, ter sido obrigado a alterar o seu nome devido à enorme crise em que ficou mergulhado, manteve a mística que lhe é característica e que quem por lá passa não esquece.
Sinceramente, tenho pena que o clube tarde em voltar ao equilíbrio necessário para estar ao seu nível, pois fazem falta ao futebol português clubes como o Salgueiros.
Seguiu-se o Arouca, onde esteve nas duas épocas seguintes (2010/11 e 2011/12). Qual o balanço que faz destas duas épocas?
Eduardo Moreira: Foram duas épocas bastante ricas em termos de amadurecimento e crescimento em relação àquilo que é o treino e o futebol profissional. Duas épocas em que trabalhei com dois treinadores fantásticos e com quem aprendi imenso. Henrique Nunes e Vítor Oliveira.
Foi também nessa altura que decidi dedicar-me exclusivamente ao futebol, deixando o ensino de Ed. Física nas escolas primárias.
A segunda época foi dura, pois vivemos uma situação complicada de lutar pela manutenção até à última jornada. Para mim, fazer parte de todo este trajeto foi um orgulho enorme e sem dúvida a base para saber estar e trabalhar neste meio.
O próximo clube que representou foi o Avintes, onde foi treinador principal durante a época 2012/13. Qual o balanço que faz desta época?
Eduardo Moreira: Sim, foi um desafio pessoal, porque após não ter chegado a acordo para renovar no Arouca, senti que teria capacidade para agarrar um projecto como principal. Não foi fácil, confesso, passar de uma 2ª Liga Profissional, para uma 1ª Divisão Distrital da AF Porto.
Mas encontrei um clube fantástico, com um presidente muito disponível e colaborador. Foram-me oferecidas todas as condições que pedi e conseguimos atingir os objectivos que estavam traçados.
Foi, acima de tudo, uma época onde pude ter a oportunidade de, como principal, expor aquilo que tinha vindo a acumular ao longo dos anos e que entendia fazer sentido. Tanto a experiência no futebol de formação para os mais jovens do plantel, como no futebol profissional, para os jogadores que entendia terem as condições técnicas e mentais para quererem ir mais além.
Depois de um ano sem treinar, voltou ao cargo de treinador principal do Avintes na época 2014/15, tendo apenas estado no clube até Dezembro. O que correu mal para esta passagem pelo clube ter terminado a meio da época?
Eduardo Moreira: Sim, dizer que durante esse período tive algumas propostas, não só como adjunto para níveis mais altos, mas também para principal, mas a minha imaturidade e falta de experiência levaram a que não aceitasse e esperasse pelo "projecto certo". Enfim, foi um erro, mas a vida é mesmo assim e foi uma experiência fantástica para o que surgiu na época seguinte.
Na época seguinte volto ao Avintes. Onde tive a oportunidade de fazer o plantel e de estruturar a época. Tive uma vez mais todas as condições que eram possíveis para a direcção oferecer. Começamos bem, mas perto do Natal, foram cometidos alguns erros e eu como treinador não tive capacidade para os antecipar e resolver e acabei por colocar o meu lugar à disposição da direcção e sai.
Quando refiro erros, refiro-me a mim que não antecipei, aquilo que é o equilíbrio entre ambição e um plantel amador. Grande aprendizagem!
E por isso estou grato ao Avintes e às suas gentes, por todo o carinho e amizade que ainda hoje mantenho.
A partir de Janeiro, foi treinador adjunto no Nogueirense F.C., onde esteve até final da época. Nos 5 meses que esteve no clube, foi possível alcançar os objectivos?
Eduardo Moreira: Sim, felizmente não tive muito tempo para descansar. Ingressei num clube extremamente organizado e com jogadores bastante jovens, mas com qualidade.
Quando chegamos, ainda havia uma hipótese de conseguir a manutenção, mas teríamos de ser muito rigorosos. Não fomos o suficiente e acabamos por descer.
Tive a oportunidade de trabalhar com jogadores que hoje estão alguns nos campeonatos nacionais.
Em 2015/2016, mudou-se para o U. Lamas, onde fez a época inteira no clube. Fale-nos um pouco sobre esta época.
Eduardo Moreira: Exato, mais um clube histórico do futebol português. Uma casa onde gostei muito de estar. Pessoas fantásticas, clube com umas condições óptimas e um plantel muito bom.
Foi a primeira vez que estive numa equipa da AF Aveiro.
Foi um convite que surgiu por parte da direcção do clube, para ser treinador adjunto. Durante essa época passaram dois treinadores pelo clube.
É um clube especial, com uma mística muito própria e com todas as condições para qualquer treinador exercer a sua actividade.
Para além disso, foi o tomar conhecimento de um novo contexto competitivo na zona de Aveiro, o que enriquece sempre um treinador.
Na época seguinte (2016/17) iniciou a época no Valadares Gaia, de onde saiu no final da pré-poca. A que se deveu esta saída precoce?
Eduardo Moreira: Sim, ingressei no Valadares Gaia como adjunto do meu amigo e treinador Carlos Cunha. O Valadares tinha obtido no ano anterior uma classificação que em circunstâncias normais lhe dariam a subida de divisão. Portanto iria disputar o campeonato nacional.
Tanto a equipa técnica como o plantel foram contratados para esse fim. Infelizmente saiu a decisão de que não seria o Valadares a subir de divisão. Logo o projecto para aquela equipa técnica tornou-se inviável. Foi então que naturalmente houve troca de treinador.
Eu como estava no meu último ano para poder realizar o meu estágio de nível III, que obriga a que seja feito numa equipa nacional, pedi ao Carlos para ficar no futebol feminino e o presidente pediu-me para, dentro das minhas possibilidades, continuar como adjunto na equipa sénior.
Infelizmente por falta de vagas para inscrição nas equipas femininas do Valadares, tive que sair e procurar outra solução.
Seguiram-se dois clubes em simultâneo, até ao final da época: a época Sénior de futebol feminino do S.C. Fiães e a equipa Sénior do Varzim. Como foi estar em dois projetos ao mesmo tempo?
Eduardo Moreira: Não foi uma novidade para mim, pois já o tinha feito dentro do mesmo clube com vários escalões. Nomeadamente no Boavista e no Salgueiros.
Como dizia antes, tive a necessidade de encontrar uma solução para resolver a questão do meu estágio de nível III. Curiosamente o presidente do Fiães, o Paulo Lima, era director na formação do Boavista aquando da minha passagem lá.
De realçar que já estávamos com a época em curso e, devido a isso, era muito difícil conseguir "entrar".
Falei com o Paulo Lima sobre a possibilidade de integrar a equipa técnica das seniores femininas do clube, ao qual ele de imediato de disse que sim, pois apenas tinham uma treinadora, a Mara Vieira, e que precisava de um adjunto.
E assim comecei esta aventura no futebol feminino. Curiosamente cerca de dois meses depois em Outubro recebo a possibilidade de integrar a equipa técnica do treinador João Eusébio no Varzim.
Aceitei de imediato e conjuguei estas duas realidades durante a época. Durante o dia seniores profissionais 2ª Liga e à noite 3 vezes por semana o futebol feminino.
Da experiência que teve no Futebol Feminino, quais foram as principais diferenças que encontrou, nos mais variados aspectos, em relação ao Futebol Masculino?
Eduardo Moreira: Existem mais semelhanças do que diferenças. Uma das diferenças é em termos físicos, não tanto na capacidade física, mas na destreza motora. Provavelmente porque muitas das jogadoras iniciam a prática tardiamente e depois isso tem reflexos na sua educação motora.
Outro dos aspectos em que senti diferenças é na gestão e na comunicação. É necessário ter uma atenção diferente na transmissão de algumas ideias e feedbacks uma vez que, pelo motivo que falei anteriormente, não existe um conhecimento muito profundo daquilo que são todas as variáveis do jogo e do treino.
Outra diferença, e foi a que mais me marcou, foi a mentalidade. Uma coisa é não sabermos executar e querer aprender e tentar, outra coisa é não saber e achar que se sabe. Neste aspecto, descobri naquela realidade o prazer genuíno de aprender e querer saber mais. Acima de tudo, o prazer genuíno de jogar futebol, algo que por vezes é esquecido, quer por quem pratica, quer por quem treina e dirige.
A época 2017/2018 esteve no F.C. Cesarense. Conte-nos como foi esta época.
Eduardo Moreira: Depois de já ter treinado em todos os escalões de formação quer a nível nacional e distrital, depois de já ter treinado seniores em todas as divisões distritais na AFPorto e também na AFAveiro, depois de ter treinador profissionais na 2ª Liga e depois de ter treinado futebol feminino, ainda não tinha treinado no campeonato nacional de seniores.
Essa oportunidade surgiu pelo F.C.Cesarense. Foi uma época que, infelizmente e por decisões que quem anda no futebol tem de saber conviver com elas, mas que não fazem sentido, terminou mais cedo do que era expectável.
Fizemos um plantel fantástico e até a nossa saída fizemos um campeonato extraordinário.
Campeonato bastante competitivo e que me deu muito prazer em trabalhar. Construímos uma equipa forte e praticávamos um futebol que, reconhecidamente pelos adversários, era de muita qualidade. Deixei o clube com um orgulho tremendo no trabalho desenvolvido e com muita confiança no futuro.
Quarta sai a 2ª parte da entrevista! Fique atento!
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